Brasileiro muda consumo de álcool e força investida da Ambev nas categorias ‘não cerveja’
A unidade de negócios anunciada esta semana vai se dedicar ao desenvolvimento de bebidas alcoólicas diferentes de cerveja
Foco em qualidade, menos em quantidade. Este é o lema da nova divisão da Ambev “Future Beverages and Beyond Beer” (bebidas do futuro e além da cerveja, em tradução livre). A unidade de negócios anunciada esta semana vai se dedicar ao desenvolvimento de bebidas alcoólicas diferentes de cerveja.
Dona de 60% do mercado cervejeiro nacional, composto em sua grande maioria por cervejas “mainstream” (comuns), a multinacional brasileira nunca precisou se preocupar muito com a concorrência. Mas a disparada na venda de bebidas durante a pandemia fez com que os consumidores passassem a diversificar o portfólio alcoólico, testando novas marcas e categorias até então vistas como nicho pela companhia.
Cresceu especialmente o consumo de vinhos e de águas com gás alcoólicas e saborizadas (as “hard seltzers”), fora as cervejas de baixo teor alcoólico e as premium -categorias que têm o público jovem e o feminino como alvo. Este é o mercado ao qual tem se dedicado a principal rival da Ambev, a Heineken. A marca holandesa, por sinal, se tornou a favorita do brasileiro, segundo pesquisa do banco Credit Suisse divulgada em janeiro. Mas é quase 50% mais cara que a Skol, da Ambev, a mais consumida.
“Os concorrentes vêm comendo pelas bordas e a Ambev resolveu reagir”, diz Marcelo Balloti Monteiro, analista do setor de bebidas da Lafis Consultoria, que destaca o aumento do consumo de vinho. “A bebida se popularizou, inclusive na versão lata, e por meio dos sites que oferecem assinatura”, afirma.
Segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), o consumo da categoria no Brasil cresceu 18,4% em 2020, para 430 milhões de litros.
Enquanto isso, o mercado de cerveja ficou estagnado. O fechamento dos bares e restaurantes em 2020, principal canal de distribuição da bebida, foi compensado pelo aumento do consumo doméstico. “A produção nacional em 2020 permaneceu no mesmo patamar de 2019, ao redor de 13,3 bilhões de litros”, afirma Monteiro.
Para este ano, o analista prevê um aumento de 1,5% na produção, para 13,5 bilhões de litros. O preço também deve subir. “As cervejarias seguraram o repasse do aumento de custos com embalagens por conta da pandemia, mas vão repassar”, diz ele.
Segundo o diretor de contas da divisão Kantar Worldpanel, Felipe Magalhães, a Ambev vem perdendo competitividade com as suas marcas “mainstream”, como Skol, Brahma e Antarctica, enquanto as cervejas premium, vinhos e outras bebidas de baixo teor alcoólico crescem.
“Antes o brasileiro bebia cerveja ou destilado, como cachaça, uísque e vodca”, diz Magalhães. “Mas a diversificação na oferta de bebidas alcoólicas cresceu muito, o que está levando a uma migração do consumo de cerveja para outras categorias”, afirma.
O executivo lembra que até a Coca-Cola lançou ano passado o Topo Chico, um “hard seltzer”.
De acordo com a consultoria Euromonitor, as vendas de cerveja no varejo no Brasil somaram R$ 184,6 bilhões no ano passado e, este ano, devem atingir R$ 198 bilhões este ano -uma alta de 7,2%. Um crescimento um pouco maior, de 7,7%, deve ser observado no mercado de vinhos, que vai chegar a R$ 18,2 bilhões.
“As cervejas comuns ganharam 2 milhões de lares nos últimos 12 meses encerrados em março de 2021, frente ao mesmo período do ano anterior, somando 39 milhões de lares”, diz Magalhães, da Kantar. Os dados representam a presença do produto em 67% das residências.
“Mas as cervejas premium ganharam 2,9 milhões de lares no período, chegando a 17,4 milhões de residências, o que indica presença em 30% das casas”.
A diversificação da Ambev para além das cervejas começou em 2019, quando a companhia comprou a Dante Rubino na Argentina, onde a empresa lançou a marca de vinho em lata Blasfemia.
A nova unidade de negócios da Ambev começa a operação com oito produtos: entre eles, as bebidas mistas Beats e Isla, a hard seltzer Mike’s, e os vinhos Dante Robino, Somm e Blasfemia.
Daniela Cachich, ex-PepsiCo, será a presidente da Future Beverages and Beyond Beer para a América do Sul -o que inclui os mercados de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Bolívia. Ela vai responder ao presidente da companhia, Jean Jereissati.
Em comunicado, a companhia disse que a missão da nova unidade é “imprimir um ritmo de inovação e criação de novas categorias, além de encantar novos consumidores e consumidoras que hoje ainda não são atendidos pelo portfólio da Ambev”.
Por Daniele Madureira