Bolsonaro diz ter levado facada nas costas do TSE e sido aniquilado politicamente
Ex-presidente afirma à tarde não estar 'morto', mas à noite cita sua idade como obstáculo
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta sexta-feira (30) ter levado uma facada nas costas com a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que decidiu por 5 votos a 2 torná-lo inelegível até 2030.
Em Belo Horizonte, à tarde, depois da definição do resultado, chegou a falar: “Não estou morto”. À noite, na chegada a Brasília, afirmou: “Pelo TSE me aniquilaram politicamente porque eu estou com 68 anos de idade”.
“Hoje vivemos aqui uma inelegibilidade. Não gostaria de me tornar inelegível. Na política, essa frase não é minha, ninguém mata, ninguém morre”, afirmou Bolsonaro na capital mineira.
“Espero, né, porque tentaram me matar em Juiz de Fora há pouco tempo com uma facada na barriga. E hoje levei uma facada nas costas com a inelegibilidade por abuso de poder político”, completou.
Em Belo Horizonte, Bolsonaro disse que a Justiça Eleitoral promoveu um julgamento político, referindo-se em seguida ao presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes.
“Ninguém pode ser o dono da verdade no Brasil. Mesmo que seja no Supremo Tribunal Federal. Não pode ter um Poder maior que o outro. O que nós estamos assistindo, basicamente, é um Judiciário, através de uma pessoa, tomando as medidas de acordo com a sua cabeça. É isso que nós queremos para o Brasil”?
O ex-presidente somente estará apto a se candidatar novamente em 2030, aos 75 anos, ficando afastado, portanto, de três eleições até lá (sendo uma delas a nacional de 2026).
A ação em julgamento foca a reunião em julho do ano passado com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada. Na ocasião, Bolsonaro fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, alegando estar se baseando em dados oficiais, além de buscar desacreditar ministros do TSE.
Ao comentar o resultado do julgamento após almoço em churrascaria da capital mineira com correligionários, o ex-presidente também reclamou da atuação do TSE nas eleições. Disse ainda que, durante seu governo, respeitou a Constituição, “a contragosto” muitas vezes, e que isso não foi reconhecido.
“Sabemos que, desde quando eu assumi, falavam que eu ia dar um golpe. E nós acompanhamos as eleições. A maneira como o tribunal superior eleitoral agiu, me proibindo até de fazer live na minha casa.”
Saudosista da ditadura militar (1964-1985), Bolsonaro flertou com o golpismo e fez declarações contrárias à democracia durante todo o seu mandato na Presidência. A reunião com embaixadores, em julho de 2022, não foi um caso isolado.
Sobre o impacto da decisão com a militância e nas eleições, o ex-presidente afirmou não estar “morto”.
“A gente vai continuar trabalhando. Não tô morto. Pretendemos fazer muitos prefeitos nas eleições do ano que vem. Não é o fim da direita no Brasil. Antes de mim ela existia, mas não tinha forma. Passou a ganhar materialidade. Hoje o pessoal sabe o que o Supremo, o que é o Congresso, o STJ.”
Bolsonaro disse ainda como pretende se movimentar nas eleições de 2026. “Sou cabo eleitoral de luxo, se meus colegas parlamentares concordarem”, afirmou. “Não vamos desistir do Brasil. Afinal de contas, tenho uma filha de 12 anos que pretende continuar nesse Brasil.”
Disse também não ter medo de ser preso. “Preso por quê? Por favor, aponte o motivo”, afirmou, ao respondeu a uma pergunta de um repórter. “Só falta isso. Se bem que uns 300 presos de forma injusta no Brasil atualmente”, declarou, se referindo a bolsonaristas presos após o ataque golpista de 8 de janeiro.
“Prisão, só se for em um abuso”, acrescentou, ainda respondendo a mesma pergunta.
Mais cedo, antes da decisão do TSE, Bolsonaro afirmou à Rádio Itatiaia que recorreria ao STF (Supremo Tribunal Federal) em caso de inelegibilidade.
“Vou conversar com meus advogados, e o recurso segue para o STF”, disse à rádio, ao ser questionado sobre o que faria caso fosse tornado inelegível. “Esse julgamento não tem pé nem cabeça”, declarou o ex-presidente, que esteve em Belo Horizonte para o velório do ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli.
“Não ataquei o sistema eleitoral, eu mostrei possíveis falhas”, disse à rádio. A ação foi impetrada pelo PDT.
Ao chegar em Brasília, no início da noite, o ex-presidente foi taxativo ao afirmar que o TSE o aniquilou politicamente, considerando que ele estará com uma idade avançada quando puder novamente disputar uma eleição.
“Pelo TSE, eles me aniquilaram politicamente porque eu já estou com 68 anos de idade. Qual foi a acusação? Reunião com embaixadores para discutir um inquérito de 2018. Vocês da imprensa tiveram conhecimento desse inquérito? Por que esse inquérito não foi concluído? O que visava apurar esse inquérito? Visava apurar possíveis irregularidades nas eleições de 2018, a minha eleição, que eu ganhei”.
Bolsonaro então insinua que esse inquérito poderia conter revelações que colocariam em xeque a segurança do sistema eleitoral. Ele afirma saber os motivos pelos quais esse inquérito ainda não foi concluído, mas disse que não revelaria para não ser acusado de divulgar fake news.
Em diversos outros momentos da entrevista, ele voltou a falar sobre esse inquérito, com insinuações. E afirmou que a decisão de hoje do TSE se deu para esconder os fatos relacionados a esse inquérito e por isso se disse mais uma vez perseguido.
“Não há uma dúvida que é uma perseguição e uma ideia de esconder algo que aconteceu nas eleições de 2018”, afirmou o presidente.
O ex-presidente voltou a afirmar que a prisão de seus auxiliares era uma forma de expô-lo. Disse que pode haver uma nova “decisão drástica” de Moraes, determinando segunda operação de busca e apreensão em sua residência.
Apesar de falar que não desconfia da Polícia Federal, insinuou que na primeira operação podem ter deixado algo em sua casa, que poderia implicá-lo.
“Já foi feita uma busca e apreensão na minha casa. E pode haver uma segunda. Pode vir uma decisão mais drástica por parte do ministro que conduz o inquérito e só ele sabe o que acontece. Ele é tudo nesse inquérito. Isso não existe na democracia”, afirmou
“Uma outra busca e apreensão a gente fica preocupado, porque o que vão querer buscar na minha casa? Já que vasculharam a casa toda. O que podem ter deixado na casa e fazer uma nova busca e apreensão na minha casa? Não sei”, completou.
Em rede social, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que “Deus não perdeu e nunca perderá o controle de nada” e finalizou: “Estou às suas ordens, meu CAPITÃO”.
Bolsonaro minimizou a possibilidade de sua mulher ser candidata, afirmando que ela não tem “experiência” para aguentar a política atual.
“Ela nunca vai estar à minha disposição. Ela tem vida própria, se ela quiser vir candidata a qualquer coisa, é um direito dela. Eu tenho conversado com ela. Ela não tem uma experiência para aguentar o dia a dia de uma política bastante violenta, com sistema bastante ativo aqui no Brasil. E outra: eleição é outra história”, completou.
Por Leonardo Augusto e Renato Machado