Blocos de Carnaval trocam ruas por balada, apesar da ômicron
Nessa terça-feira (25/1), o Brasil registrou 199.126 casos da doença em 24 horas, o terceiro maior número desde o início da pandemia
Mesmo com o cancelamento do Carnaval de rua e com o adiamento dos desfiles no sambódromo de São Paulo, blocos tradicionais aparecem na programação de festas particulares prometidas para as próximas semanas.
Os eventos, no entanto, podem contribuir para o avanço da Covid-19, sobrecarregando o sistema público de saúde. Nessa terça-feira (25/1), o Brasil registrou 199.126 casos da doença em 24 horas, o terceiro maior número desde o início da pandemia.
No último fim de semana, o bloco Agrada Gregos iniciou três dias de festa, com 50 atrações, segundo a organização, na região do Pari, na zona norte da capital. O evento teve início às 17h do último domingo (23/1) e se encerraria na madrugada desta quarta-feira (26/1).
O Agrada Gregos afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, seguir “todas as medidas de proteção” à Covid-19. Apesar disso, a Vigilância Sanitária afirmou, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, ter realizado inspeção e autuado os responsáveis pelo evento “por não exigir o uso de máscaras”.
No perfil oficial do bloco, no Instagram, é possível verificar que o público não usa máscaras de proteção.
A ausência do item obrigatório, segundo protocolos sanitários estaduais, também é constatada no palco da festa, conforme imagens compartilhadas na rede social. Os registros mostram ainda pessoas sem máscara se abraçando.
Mais eventos particulares estão programados para o Carnaval para as próximas semanas.
No site da casa de shows Studio SP, que fica na rua Augusta, região central da capital, há até o momento dez festas agendadas, com participação de nove blocos de rua famosos entre os foliões.
A programação, publicada na internet, começa no próximo dia 4, com eventos protagonizados por blocos de Carnaval, até o dia 27 de fevereiro.
Em seu site, o Studio SP afirma que irá respeitar o limite de 70% de público na casa, sem especificar a lotação máxima do local, acrescentando que irá obrigar o “uso correto” de máscaras de proteção.
No último dia 6, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciou o cancelamento do Carnaval de rua na capital paulista, atribuindo isso ao avanço de contaminações decorrentes da Covid-19 e também da gripe H3N2. Em sua última edição, em 2020, a Prefeitura contabilizou 15 milhões de foliões nas ruas da cidade.
Isso, porém, não impede a organização de festas particulares, para as quais a gestão Nunes estabeleceu protocolos específicos, como a exigência de comprovação vacinal completa, limite de 70% de ocupação de público, obrigatoriedade do uso de máscaras e respeito ao distanciamento mínimo de um metro entre as pessoas.
“Entendo que toda essa política é de redução de danos, não de contenção da epidemia. Então, o governo vai pedir passaporte vacinal, restringir o número de pessoas nos locais, para diminuir o número de infecções, que sabemos que irão ocorrer”, afirmou o infectologista Wladimir Queiroz, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
O especialista considerou “absurdas” as imagens da festa do Agrada Gregos. “Na situação epidemiológica atual, ver essas imagens é algo absurdo. Estamos em uma fase de pico de novas infecções.”
Queiroz, que também é professor na Faculdade de Ciências Médicas de Santos, além de médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, acrescentou que as festas particulares programadas para o Carnaval, em fevereiro, “irão provavelmente causar uma explosão maior de casos [de coronavírus]”.
“Já não sei mais a quem culpar por isso, porque a impressão que tenho é a de que, de alguma maneira, essas festas já são clandestinas pelo próprio modo de ser.”
Organizadores
O bloco de carnaval Agrada Gregos afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, respeitar os protocolos sanitários de prevenção à Covid-19, acrescentando ter sido autuado pela Vigilância Sanitária no primeiro dia do evento. O departamento jurídico do grupo avalia se irá recorrer.
Sobre as pessoas que aparecem sem máscara, durante o evento iniciado domingo (23/1) na zona norte, acrescentou que o público retira o item para se fotografar ou consumir bebidas. “Não temos controle [sobre a retirada de máscaras], uma vez que o ato de beber caracteriza consumo de acordo com as orientações de realização para eventos particulares”, diz trecho de nota.
Apesar disso, o Agrada Gregos reforçou cobrar o uso do item aos foliões por meio de avisos sonoros e placas. Foi acrescentado ainda ser obrigatória a apresentação da carteirinha de vacinação, constando duas aplicações de imunizante, para entrar no evento.
O bloco afirmou respeitar o limite de público de 70%, mas não informou quantas pessoas participaram das festas de domingo e segunda.
O Studio SP, que divulga dez eventos ligados a blocos carnavalescos, não se posicionou até a publicação desta reportagem. Em seu site, afirma respeitar “os protocolos das autoridades de saúde”, como uso de máscara e obrigatoriedade da apresentação da carteira de vacinação.
Prefeitura e estado A Vigilância Sanitária, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, afirmou ter autuado os organizadores do Festival Agrada Gregos. O valor da multa não foi informado.
A pasta acrescentou que as autuações são passíveis de recurso, reforçando que o uso de máscara é obrigatório em todo o estado “para enfrentamento da pandemia.”
A Prefeitura de São Paulo afirmou exigir que organizadores de evento obedeçam à obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção, além de cobrar o passaporte de vacinas.
Desde o início deste ano, acrescentou, frequentadores de festas e shows precisam estar vacinados com ao menos duas doses de imunizante contra o coronavírus, “devido à nova onda de contaminações causada pela variante ômicron”, diz trecho de nota.
A gestão Ricardo Nunes (MDB) não comentou se iria tomar algum tipo de medida em relação ao evento na zona norte em que frequentadores aparecem sem máscara de proteção em vídeos.
Denúncias podem ser feitas pelo telefone 0800-771-3541 ou por email (secretarias@cvs.saude.sp.gov.br).
Por Alfredo Henrique