Black Friday patina em eletrodomésticos, e pedidos de alimentos quintuplicam em relação a 2019
O setor que sofreu a queda mais brusca foi de o entretenimento
Poucos clientes nas lojas e negócios mornos no online, onde se concentra o maior número de vendas. Assim foi, nesta sexta-feira (26), a segunda Black Friday da pandemia. A data de promoções disputa com o Natal o posto de melhor período de vendas para o comércio e alimenta expectativas.
Foram mais de 5,6 milhões de pedidos até as 17h, segundo monitoramento da Neotrust, empresa especializada em dados de vendas virtuais. O volume é praticamente igual ao registrado até o mesmo horário no ano passado. O faturamento estava em quase R$ 4 bilhões, 5% acima do contabilizado no período em 2020.
O resultado preliminar, no entanto, não considera o efeito da inflação, que registra em 12 meses as maiores altas na série histórica dos últimos 20 anos. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) aumentou 10,67% nos 12 meses encerrados em outubro. Considerando a inflação, o faturamento está 5,1% menor até as 17h.
Dentre as 14 categorias, a de alimentos e bebidas sofreu um aumento exponencial em relação a 2019: o número de pedidos cresceu quase 422% em dois anos. Em relação ao ano passado, o crescimento foi de 77% nessa categoria, o maior entre todas. Os dados, também da Neotrust, foram contabilizados até as 16h desta sexta e comparados com o mesmo período de anos anteriores.
O setor que sofreu a queda mais brusca ante 2020 foi o de entretenimento, que caiu 33%.
Setores tradicionalmente fortes na data, como informática e telefonia, patinaram. O primeiro diminuiu 24% em relação a 2020, e o segundo aumentou 2%. O mesmo aconteceu com eletrodomésticos e ventilação, que amargou aumento de apenas 1% em comparação a dois anos atrás.
Segundo a Apas (Associação Paulista de Supermercados), os produtos mais procurados no varejo alimentar foram carnes, chocolates e bebidas alcoólicas. A expectativa é crescimento de 9,30% no setor de mercados em relação ao mesmo período de 2020.
Análises sobre o perfil do consumidor apontam que os principais clientes são mulheres (57%) entre 25 e 50 anos (68,96%) que moram no sudeste (região que concentra 61% dos pedidos).
Até o início da tarde, as grandes redes de varejo físico que vendem eletrodomésticos e eletrônicos estavam vazias no centro de São Paulo. Em duas lojas de Magazine Luiza e Casas Bahia, havia mais atendentes do que compradores por volta das 11h.
A reportagem conversou com poucos consumidores que adquiriram eletrônicos e produtos para a casa. As compras foram programadas e pesquisadas antes na internet.
“Não foi por impulso. Precisava de um ventilador e estava acompanhando os descontos na internet. Comprei por R$ 100 a menos”, afirmou Lindomar de Souza, vendedor de calçados.
As redes tiveram dificuldade para repassar os descontos para determinados produtos diante da alta na inflação. Uma TV de 33 polegadas, por exemplo, que era vendida a R$ 999 no ano passado, neste ano sai a R$ 1.500, segundo o gerente de um dos estabelecimentos.
Os lojistas relataram que, na comparação com a data do ano passado, o movimento está menor. A abertura do comércio diante do arrefecimento da pandemia não foi suficiente para levar as pessoas às lojas como em edições passadas do evento.
Com o crescimento do online e o orçamento corroído da população mais pobre, as cenas de televisões nos ombros ou tumulto na disputa por promoções de eletrônicos não se repetem como nos anos anteriores à Covid.
Neste ano, as sacolas estavam cheias apenas de itens de supermercado, como alimentos não perecíveis e produtos de higiene.
Como uma tendência já identificada pelo Mercado Livre, de venda online, a população aproveitou o dia para preencher a despensa. Um estabelecimento das Americanas era o único com grandes filas.
Até o meio-dia, a loja tinha atendido mais de 1.000 pessoas e o chocolate era o item preferido. Barras e caixas do estoque foram vendidas em combos: um chocolate que custa R$ 2,99 a unidade foi vendido na promoção de sete por R$ 10.
Sabão líquido, xampus e cremes também compunham as cestas.
A comerciante Sueli da Silva comprou R$ 800 em itens para despensa, como sabão para roupas e biscoitos, e para presentes de Natal. Aguardava a Black Friday para isso.
“As caixas de bombom vão para as cestas de Natal que vamos dar para a família. De eletrodoméstico, só a sanduicheira porque valeu muito a pena [R$ 69]”, afirmou.
No ecommerce, as maiores varejistas apostaram nas ofertas de produtos premium, adquirindo mais iPhones, TVs e geladeiras, com a estratégia de captar o público que ainda tem poder de compra.
Shampoo, perfume e itens de higiene e supermercados também apareceram nos relatórios dos primeiros dias de promoção do Reclame Aqui.
“Estamos vivendo a Black Friday da mercearia, o que deixa claro o momento inflacionário e difícil para as empresas e ainda mais para o consumidor”, afirma o presidente-executivo do Reclame Aqui, Edu Neves, em nota. “Itens de mercearia e higiene, por exemplo, são os únicos que restaram aos consumidores para buscar descontos reais, mostrando o momento contundente de inflação.”
Já haviam sido registradas quase 7.000 reclamações no site das 12h de quarta-feira (24), até as 12h desta sexta, o que representa um aumento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
Por Daniela Arcanjo, Paula Soprana e Leonardo Augusto