Black Friday começa com lojas vazias e vendas mornas na internet
A data de promoções disputa com o Natal o posto de melhor período de vendas
Poucos clientes nas lojas e negócios mornos no online, onde se concentra o maior número de vendas. Assim começou, nesta sexta-feira (26), a segunda Black Friday da pandemia. A data de promoções disputa com o Natal o posto de melhor período de vendas para o comércio e alimenta expectativas.
Foram quase de 4,2 milhões de pedidos até as 12h, segundo monitoramento da Neotrust, empresa especializada em dados de vendas virtuais. O volume é praticamente o mesmo registrado nesse horário no ano passado. O faturamento estava em R$ 2,8 bilhões, 5% acima do contabilizado em igual período de 2020.
O resultado preliminar, no entanto, não considera o efeito da inflação, que registra em 12 meses as maiores altas na série histórica dos últimos 20 anos. Em outubro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), aumentou 1,25%, maior para o mês desde 2002.
“O volume de compras na madrugada não começou tão bem, mas o que temos de positivo é que o faturamento começou a crescer nas últimas horas”, afirmou em nota a gerente de inteligência da Neotrust, Paulina Gonçalves Dias.
Análises sobre o perfil do consumidor apontam que os principais clientes são mulheres (57%) entre 25 e 50 anos (69,1%) que moram no sudeste (região que concentra 61% dos pedidos).
Até o início da tarde, as grandes redes de varejo físico que vendem eletrodomésticos e eletrônicos estavam vazias no centro de São Paulo. Em duas lojas de Magazine Luiza e Casas Bahia, havia mais atendentes do que compradores por volta das 11h.
O jornal Folha de S.Paulo conversou com poucos consumidores que adquiriram eletrônicos e produtos para a casa. As compras foram programadas e os pesquisados antes na internet.
“Não foi por impulso. Precisava de um ventilador e estava acompanhando os descontos na internet. Comprei por R$ 100 a menos”, afirmou Lindomar de Souza, vendedor de calçados.
As redes tiveram dificuldade para repassar os descontos para determinados produtos diante da alta na inflação. Uma TV de 33 polegadas, por exemplo, que era vendida a R$ 999 no ano passado, neste ano sai a R$ 1.500, segundo o gerente de um dos estabelecimentos.
Os lojistas relataram que, na comparação com a data do ano passado, o movimento está menor. A abertura do comércio diante do arrefecimento da pandemia não foi suficiente para levar as pessoas às lojas como em edições passadas do evento.
Com o crescimento do online e o orçamento corroído da população mais pobre, as cenas de televisões nos ombros ou tumulto na disputa por promoções de eletrônicos não se repetem como nos anos anteriores à Covid.
Neste ano, as sacolas estavam cheias apenas de itens de supermercado, como alimentos não perecíveis e produtos de higiene.
Como uma tendência já identificada pelo Mercado Livre, de venda online, a população aproveitou o dia para preencher a despensa. Um estabelecimento das Americanas era o único com grandes filas.
Até o meio-dia, a loja tinha atendido mais de 1.000 pessoas e o chocolate era o item preferido. Barras e caixas do estoque foram vendidas em combos: um chocolate que custa R$ 2,99 a unidade foi vendido na promoção de sete por R$ 10.
Sabão líquido, xampus e cremes também compunham as cestas.
A comerciante Sueli da Silva comprou R$ 800 em itens para despensa, como sabão para roupas e biscoitos, e para presentes de Natal. Aguardava a Black Friday para isso.
“As caixas de bombom vão para as cestas de Natal que vamos dar para a família. De eletrodoméstico, só a sanduicheira porque valeu muito a pena [R$ 69]”, afirmou.
Alimentos e bebidas são a quarta categoria mais comprada neste ano até agora, atrás de moda e acessórios, beleza e perfumaria e telefonia.
No ecommerce, as maiores varejistas apostaram nas ofertas de produtos premium, adquirindo mais iPhones, TVs e geladeiras, com a estratégia de captar o público que ainda tem poder de compra.
Shampoo, perfume e itens de higiene e supermercados também apareceram nos relatórios dos primeiros dias de promoção do Reclame Aqui.
“Estamos vivendo a Black Friday da mercearia, o que deixa claro o momento inflacionário e difícil para as empresas e ainda mais para o consumidor”, afirma o presidente-executivo do Reclame Aqui, Edu Neves, em nota. “Itens de mercearia e higiene, por exemplo, são os únicos que restaram aos consumidores para buscar descontos reais, mostrando o momento contundente de inflação.”
Já haviam sido registradas quase 7 mil reclamações no site das 12h de quarta-feira (24), até as 12h desta sexta, o que representa um aumento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
Por Daniela Arcanjo e Paula Soprana