Bienal abre com Marielle de 11 metros e público que quer retomar vida cultural

Máscara e vacina são as duas exigências da instituição para a visitação

“Esses carros aí vão todos para a Bienal”, afirma o vendedor Robson Bispo Martins, enquanto aponta para a extensa fila de veículos que se formava na entrada do parque Ibirapuera na manhã deste sábado (4) -dia em que o evento, em sua 34ª edição, abriu para o público.

Martins, que trabalha nos arredores do parque há nove anos, conta que os portões 3 e 4 reabriram para o público há “cerca de dois meses” e que há tempos não via uma fila tão longa se formar no local. “Vai continuar assim nos próximos dias por causa da exposição”, diz.

Apesar da colocação do vendedor, a cena da fila não se repetia na entrada do Pavilhão da Bienal. Pelo menos não durante a manhã da inauguração. Tradicionalmente, o período da tarde costuma ser mais cheio.

O público, aparentemente, preferiu aproveitar a manhã ensolarada do primeiro dia de um feriado prolongado no parque antes de encarar os 25 mil m2 de extensão do Pavilhão da Bienal.

Além disso, quem passa pelas pistas ou pelo gramado do Ibirapuera pode avistar algumas das obras que compõem “Faz Escuro Mas Eu Canto” mesmo sem entrar no prédio. É o caso das cobras infláveis de Jaider Esbell ou das enormes esculturas de metal de Paulo Nazareth, como a que representa a vereadora Marielle Franco, com 11 metros de altura, instalada ao lado do Museu Afro Brasil.

Naquele momento, o burburinho que havia à porta do edifício era de pessoas que caçavam, no celular, fotos que comprovassem que foram vacinadas. Essa é uma das duas exigências da instituição para a visitação. A outra é a máscara, que não deve ser retirada nem para tomar água.

Mesmo que timidamente, os visitantes já começavam a se espalhar pelo espaço nas primeiras horas da exibição. Famílias com crianças, casais, grupos de amigos e gente que estava pelo parque observava e tirava fotos das obras.
A fim de ter algum contato com a natureza após tanto tempo dentro de casa, a professora aposentada Maria Rosa Dória Ribeiro, 66, foi surpreendida com a abertura da Bienal e resolveu fazer uma visita.

“É a primeira vez que eu faço um passeio como esse desde o começo da pandemia”, conta. “Agora, estou até considerando usar um desses fones”, diz, sobre a obra “Pim-Pam”, do espanhol Roger Bernat, em que instruções são sussurradas ao visitante através de fones de ouvido sem fio, em uma espécie de jogo. Os aparelhos são higienizados antes de cada uso.

Já a argentina Bárbara Stutz, 42, saiu de casa com os três filhos pequenos só para conhecer o evento. “Eu vim para todas as edições da Bienal desde que cheguei em São Paulo, há 13 anos”, relata, após tirar uma foto com os dois meninos mais velhos com cartazes que compõem uma obra do chileno Alfredo Jaar em mãos. Neles, se lê “o velho está morrendo e o novo demora a nascer. Nesse claro-escuro surgem os monstros”, frase de Antonio Gramsci.

Acostumado a visitar exposições com Bárbara, o pequeno Mateo, 8, estava interessado mesmo em uma obra do terceiro andar do pavilhão. “Eu vi que lá em cima tem umas luzes coloridas e fiquei curioso.”

O trabalho, uma escultura de luzes da italiana Marinella Senatore que lembra um brinquedo de parque de diversões, também chamou a atenção das amigas Carolina Braga, 40, Barbara Leão, 42, e Maria Eduarda, 10. Também chamou a atenção delas que parte da equipe da Bienal tem negros e estrangeiros, “principalmente no segundo andar, onde tem mais obras de artistas afro”.

Para Eder Vendramel, 40, e Itamar Olímpio, 38, o que chamou a atenção foi enfoque no Museu Nacional, além dos artistas negros e indígenas. “Nós fizemos a primeira visita guiada dessa Bienal. Não saíamos desde dezembro, mas estamos voltando aos poucos”, conta a dupla, que foi ao Museu da Língua Portuguesa na semana passada. “Achei muito interessante a conexão que fizeram com o incêndio do Museu Nacional, que completou três anos ontem [sexta (3)]”, diz Itamar. Já Elder diz ter gostado da temática da liberdade.

No início da tarde, um grupo de cerca de 30 pessoas acompanhava a performance “Dancer of The Year Shop #3”, do americano Trajal Harrel no segundo andar do pavilhão. E os corredores ficavam cada vez mais cheios de gente com máscara no rosto e celular em punho.

34ª BIENAL DE SÃO PAULO – FAZ ESCURO MAS EU CANTO
Quando: Ter., qua., sex. e dom., de 10h às 19h. Qui. e sáb., de 10h às 21h. Até 5/12.
Onde: Pavilhão da Bienal, Parque Ibirapuera, portão 3, São Paulo
Preço: Grátis

Texto: Marina Consiglio

Sair da versão mobile