Bares mineiros buscam patamar pré-pandemia, mas ainda amargam prejuízo

Na área de eventos a retomada começa a trazer resultados, ainda em ritmo lento

Na praça da Savassi, ponto boêmio de Belo Horizonte, o público volta a procurar por bares para se reunir e descontrair. As calçadas cheias de mesas, do jeito que os mineiros gostam, mostram que as pessoas estão mais dispostas a frequentar ambientes de lazer, seguindo os protocolos sanitários. O ritmo noturno, porém, ainda não voltou à normalidade na capital de Minas Gerais.

Durante a pandemia, o 80 Bar precisou entregar uma das três lojas em que funcionava devido ao valor do aluguel e ao longo período de fechamento. Agora, os consumidores começam a retornar de forma gradual –o público atual já chega a 80% do que era antes da pandemia, diz o gerente do local, Rui Moreira.

Um problema relatado pela chefia dos dois estabelecimentos que seguem abertos da rede é a aglomeração que se forma nas ruas próximas à Praça após às 23h, quando eles fecham as portas. Segundo eles, as pessoas compram bebidas por delivery e ficam reunidas sem seguir nenhum tipo de protocolo sanitário, diferente do que acontece nos bares.

O vizinho, Estação Savassi, também vê um retorno lento dos clientes. Vander Júnior Lopes, gerente da casa, diz que o mais difícil é a restrição de 6 pessoas a cada duas mesas. “O pessoal quando vem para o bar quer sentar junto, muitos não aceitam. Cabe a gente explicar, pedir para eles seguirem a regra e nos ajudarem.”

Também na Savassi, o Bar Laicos é outro que enxerga uma movimentação positiva para os bares de BH. Apesar de passar por momentos difíceis com o fechamento em 2020 e a dispensa de todos os funcionários, hoje o bar já voltou a contratar e teve um faturamento em julho e agosto comparável ao período pré-pandemia.

No entanto, Marco Panerai, proprietário do Laicos, ainda não sabe como será a recuperação financeira após a pandemia. “Nesse ano fechado a gente afundou em dívidas, então vão ser alguns anos para conseguir recuperar e sair do buraco que a gente entrou”, diz ele.

Há cerca de um mês a prefeitura de Belo Horizonte aumentou o horário de funcionamento dos bares e restaurantes que agora podem ficar abertos até às 23h.

Foi só nesse período que o bar Jângal retornou seu funcionamento. Na reabertura o espaço funcionava apenas aos finais de semana, mas com o aumento da procura, já voltou a abrir de terça a domingo. O proprietário, André Sassen, diz que também precisou demitir todos os funcionários e só agora com a retomada pôde voltar com as contratações.

Matheus Daniel, presidente da Abrasel-MG (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais), diz que, segundo as estimativas da instituição, os bares devem fechar o ano tendo um faturamento próximo ao dos últimos meses de 2019. “Entretanto, se contarmos a inflação e todas as dívidas que foram feitas devido ao fechamento da pandemia, não teremos a mesma lucratividade e vamos demorar para recuperar o que foi perdido”.

No setor de eventos, as empresas especializadas em casamentos estão começando a retomar as agendas. Graziella Araujo, proprietária da Luiza Araujo Produção e Eventos, diz que a retomada está acontecendo de forma lenta, e muitos dos eventos realizados atualmente são de compromissos remarcados do ano passado.

“Eu tinha 47 eventos agendados no ano passado e de uma hora para outra mudou tudo.

Inicialmente, remarcamos para 2021, mas agora já tem remanejamento para o primeiro semestre de 2022. Com isso, tive quatro cancelamentos apenas, o restante consegui manter.”

Vanessa Carneiro, proprietária da Help Eventos Cerimonial e Assessoria, diz que muitos fornecedores e parceiros precisaram encerrar as atividades devido à falta de demanda. Apesar disso, ela vê um crescimento na procura de eventos para os próximos meses e principalmente para 2022.

“As pessoas estão vendo a retomada e se sentindo mais seguras para começar a pensar e planejar suas festas de casamento. Eu tenho recebido muito contato, muita solicitação de orçamento principalmente para o fim de 2022 e para 2023”, diz Vanessa.

No entanto, as duas profissionais afirmam que os protocolos em BH para a retomada dos eventos sociais, como festas de casamento, são mais rígidos que para outros setores. “A gente tem enfrentando uma barreira muito grande por conta dos protocolos da prefeitura. Os casais aceitam, mas precisa de uma conversa”, diz Graziella.

Atualmente os protocolos obrigam que todos os presentes apresentem resultado negativo de exame realizado nas últimas 72 horas e capacidade máxima de 200 pessoas, com limite de uma pessoa a cada 5m² da área total.

Um levantamento feito pela AMEE (Associação Mineira de Eventos e Entretenimento) entre seus associados aponta que menos de 30% conseguiram retomar as atividades efetivamente.

Segundo Rodrigo Marques, presidente da AMEE, as entidades do setor solicitaram uma reunião com a prefeitura e aguardam o retorno. “Nossa esperança é que com o avanço da vacinação possamos avançar na retomada com mais segurança”, diz ele.

Matheus Daniel, presidente da Abrasel-MG, afirma que os protocolos sanitários são importantes e estão sendo seguidos pelos estabelecimentos. Ele também critica algumas das restrições, como o máximo de seis pessoas por mesa e o horário limite de funcionamento até as 23h.

De acordo com a prefeitura de Belo Horizonte, os protocolos adotados se baseiam em critérios utilizados mundialmente e seguem os indicadores epidemiológicos da cidade. O monitoramento é feito diariamente e revisões nos protocolos podem ser feitas de acordo com a melhoria dos índices.

“As medidas restritivas relacionadas ao horário de funcionamento, capacidade de clientes e distanciamento visam reduzir aglomerações de pessoas de convívio de grupos de diferente em longos períodos, resguardando a saúde dos frequentadores e funcionários”, afirma a prefeitura.

O que pode funcionar em Minas Gerais

Com 57,5% de lotação de UTIs públicas para Covid-19 no estado, o governo e as prefeituras vêm reduzindo as restrições para o funcionamento de bares e restaurantes e para a realização de eventos, mas ainda há atividades completamente vetadas. Em Belo Horizonte, o ocupação de unidades de terapia intensiva para o tratamento da doença está em 49,1%.

O governo do estado mantém o programa Minas Consciente, que estabelece critérios para reabertura das cidades conforme os índices de transmissão do vírus e disponibilidade de UTIs. Os riscos são classificados em ondas. A mais restritiva é a roxa. A adesão ao programa depende de decisão de cada prefeitura.

Por Isac Godinho

 

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