Atraso no Censo do IBGE pode prejudicar até vacinação contra Covid
O levantamento, que deveria ter sido aplicado em 2020, é o que fornece informações precisas sobre o tamanho e características da população
A demora na execução do Censo do IBGE, discussão que pode parecer muito técnica, tem implicações diretas no cotidiano das pessoas, afirma o demógrafo Irineu Rigotti, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
O levantamento, tradicionalmente feito a cada dez anos, que deveria ter sido aplicado em 2020, é o que fornece informações precisas sobre o tamanho e características da população, pois coleta dados de todos os domicílios do país.
É com esses dados que são definidas a distribuição de recursos para municípios, a necessidade de serviços públicos e até o envio de vacinas, políticas que consideram os tamanhos das populações.
Sem informações atualizadas, pois o Censo mais recente foi aplicado há 11 anos, são feitas projeções estatísticas da evolução populacional, que podem estar imprecisas. Assim, cidades devem estar recebendo recursos insuficientes, pois cresceram mais que o inicialmente previsto -e outras regiões ganhando mais recursos que o necessário.
O levantamento envolve mais de 200 mil pessoas, que precisam entrevistar pessoalmente representantes de todos os mais de 70 milhões de domicílios do país. O governo adiou o Censo devido à pandemia.
Já o Orçamento apresentado para este ano não previa recursos suficientes para o levantamento (orçado inicialmente em R$ 2 bilhões, caiu para R$ 50 milhões).
O Supremo determinou que o Censo seja aplicado em 2022. Na quinta-feira (15), o Congresso aprovou o projeto que traz as diretrizes orçamentárias para o ano que vem, pondo o Censo como uma das prioridades. Os recursos destinados ao levantamento serão definidos no passo posterior, que é a definição da lei orçamentária propriamente dita.
Vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, o demógrafo Rigotti aborda os prejuízos que o atraso na aplicação do levantamento pode causar. Ele também auxiliou na elaboração dos mapas ao lado, que mostram a evolução populacional no país, segundo os Censos.
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Pergunta – Por que o novo Censo é importante?
Irineu Rigotti – O demógrafo, o especialista, sabe a centralidade dele para as políticas públicas e muitas outras coisas. Mas muita gente o vê apenas como um retrato, a população em 2000, a população em 2010. É muito mais que isso.
Para o país fazer planejamento, projeção de população para políticas públicas, para investidores da iniciativa privada, para saber para onde a população está indo, o Censo é fundamental.
Como o Censo traz informações do padrão demográfico, nascimento, mortalidade, migrações, ele é um filme, mostra a evolução da população e permite projetar o futuro, num detalhamento que outras bases não permitem.
É ele que traz dados para políticas públicas em âmbito municipal. O Fundo de Participação dos Municípios, por exemplo, é distribuído de acordo com a magnitude das populações [o fundo visa ajudar municípios com recursos insuficientes; em 2020, distribuiu mais de R$ 105 bilhões].
É muito difícil projetar população para pequenas áreas, e são elas que mais precisam do fundo. Para fazer essa projeção da população, usamos até hoje o Censo de 2010. Pode ser que haja municípios recebendo menos que deveriam, porque teve aumento maior de população do que o projetado. E outros ganhando mais.
A tendência populacional muda entre os Censos, um intervalo de dez anos anos já é grande, agora vamos para 12 anos.
Por: FÁBIO TAKAHASHI E DIANA YUKARI