Após chuvas e desabamento, construções históricas de Ouro Preto (MG) correm risco
Patrimônios como casarões e igrejas sofrem desgaste e precisam de restauro
Escoras de madeira seguram o que resta da fachada do histórico casarão do Vira Saia, em Ouro Preto, na região central de Minas Gerais. A maior parte do telhado e das paredes da edificação do século 18 vieram abaixo com as fortes chuvas que atingiram o estado em janeiro.
Quem chega hoje no local encontra ruínas da casa que um dia pertenceu a Antônio Francisco Alves, o “Vira Saia”. Uma placa na estrutura do prédio explica que ele era o chefe do bando que interceptava tropas que transportavam ouro de Minas para o Rio de Janeiro.
O que sobrou das paredes do casarão tem rachaduras. A pintura, que um dia foi branca, hoje está descascada. Lonas azuis colocadas em cima da estrutura tentam proteger a edificação de maiores danos.
Segundo Conceição Maria de Oliveira, que mora em frente ao casarão, durante as fortes chuvas de janeiro, havia o receio de que a construção caíssepudesse cair a qualquer momento.
“A sensação é de que ia cair tudo na cabeça de alguém, ou que essa lona, pelo jeito que ela estava instalada, ela voava, e eu achava que ia levar tudo e jogar em alguma casa da vizinhança”, diz ela.
Segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o imóvel foi desapropriado pela prefeitura municipal no início de janeiro de 2022, quando foram iniciados os serviços de escoramento e limpeza do local.
Já está em andamento o projeto de restauração do casarão, onde será localizada a Casa de Cultura e Arte Popular. No mesmo terreno também será construída uma creche municipal, de acordo com a instituição.
Também em janeiro, um outro casarão histórico desabou após um deslizamento de terras no centro histórico da cidade. O solar Baeta Neves havia sido construído no fim do século 19, nas proximidades da estação ferroviária.
Segundo a prefeitura, a edificação estava interditada desde 2012, devido aos riscos de deslizamento no morro da Forca. Quase dez anos depois, a tragédia anunciada aconteceu.
Hoje, o espaço onde ficava o solar está cercado para obras. A segurança dos prédios vizinhos foi assegurada pela Defesa Civil municipal e o trânsito na região foi restabelecido.
De acordo com Margareth Monteiro, secretária de Cultura e Turismo de Ouro Preto, nos próximos dias será iniciado um trabalho de recuperação dos elementos do casarão que possam ser reaproveitados.
“A nossa proposta é de, depois que esses elementos forem recolhidos e higienizados, vamos fazer uma grande exposição, mostrando para comunidade e para o mundo o que foi o solar Baeta Neves e como ele era constituído. Existe até a possibilidade de futuramente, caso o município queira, construir um novo solar Baeta Neves e incluir esses elementos”, afirma a secretária.
Vizinhos do casarão relatam o desespero que sentiram no dia da tragédia. “No dia que caiu a gente assustou bastante, ouvimos um barulhão, um poeirão enorme, os fios caíram no chão, o poste estourou e todo mundo saiu correndo, foi bem assustador”, diz Edileusa dos Santos, funcionária de uma padaria localizada próxima ao solar.
Segundo ela, os estabelecimentos da área precisaram ficar fechados por cinco dias, devido ao risco de novos deslizamentos.
“Só voltamos a trabalhar depois que a fiscalização deu segurança de que não cairia mais terra. Mas a gente ainda fica meio apreensivo, porque não sabemos qual vai ser a proporção de chuva daqui pra frente, se vai ter outro impacto, se está realmente seguro. Qualquer barulhinho aqui a gente assusta”, diz Ellen Regina, funcionária de uma farmácia próxima.
Além do solar Baeta Neves, que foi destruído, e do casarão do Vira Saia, ao menos mais um casarão e duas igrejas históricas também se encontram em situação crítica na cidade.
O casarão João Veloso, construído no século 18, também no centro histórico da cidade. Nele estão sendo realizadas obras para estabilização da estrutura e reforma do telhado. Quem passa pela rua pode ver os andaimes das obras que dão sustentação à casa.
As paredes possuem diversas trincas e rachaduras, a pintura já está bastante desgastada e parte do reboco está cedendo. Em uma parte, é possível ver a estrutura de pau a pique, por baixo do reboco. Lonas azuis protegem o telhado enquanto a obra para troca das telhas não é finalizada.
Segundo Cristina Pimenta, vizinha da casa, nunca houve uma sensação de que a edificação iria cair a qualquer momento. Mas ela se diz muito feliz com as obras para restauração do casarão e a conservação do patrimônio da cidade.
De acordo com o Iphan e a secretaria de cultura, um projeto está sendo desenvolvido para que o espaço abrigue o Arquivo Municipal.
No bairro Cabeças, a igreja de Bom Jesus de Matosinhos, ou São Miguel e Almas, está interditada desde 2014.
A edificação possui obras esculpidas por Aleijadinho em sua entrada, que já estão deterioradas e precisam de restauração. A fachada possui diversas rachaduras, há mato crescendo pelo telhado e a pintura, que já foi branca, apresenta mofos e manchas. No interior da construção, há pontos de infiltração e mofo. O forro da nave central foi retirado para preservação, bem como todas as imagens que compunham os altares. O chafariz, localizado na frente da igreja, que data de 1763, corria risco de desabar e foi escorado pela prefeitura.
No distrito de São Bartolomeu, a igreja de mesmo nome também está interditada. Segundo a prefeitura, foi colocada uma proteção no telhado para proteger o forro, devido ao período chuvoso.
De acordo com o Iphan, as duas igrejas possuem projetos arquitetônicos para restauração aprovados. As obras estão contempladas nas ações do instituto, mas sem previsão de data para execução.
A prefeitura de Ouro Preto afirma que as duas obras são muito caras, por isso busca parcerias com a iniciativa privada ou recursos de emendas parlamentares para executar os projetos de restauração.
Por Isac Godinho