Apps de transporte não exigem vacina de motoristas, e passageiros reclamam
Nas redes sociais, diversas pessoas têm postado reclamações sobre o assunto
A administradora Patrícia Aguiar Perez, 46, seguia da avenida Paulista, na região central de São Paulo, para casa, na zona leste, quando o assunto com o motorista de aplicativo enveredou para vacinas.
O motorista disse ser contra a obrigatoriedade da vacinação contra Covid-19 e que não se vacinaria. Ao que ela respondeu: “Estou com Covid, quero ter a liberdade de andar sem máscara, tudo bem? Você gostaria de estar vacinado agora?”.
A conversa morreu até ela chegar em casa. “Foi torta de climão o resto da viagem, mas cheguei ao meu destino”, afirmou à reportagem.
Sem obrigatoriedade da vacina para motoristas de apps, espalham-se os relatos de passageiros preocupados com a saúdes após viagens com profissionais que se recusam a passar pela imunização.
Nas redes sociais, diversas pessoas têm postado reclamações sobre o assunto. “Chamei um Uber pra me levar ao centro de vacinação pra tomar o booster da vacina… O cara era antivax e foi me contando histórias de quem tomou vacina e deu ruim”, escreveu um usuário de app.
“Tá na hora do Uber, 99, táxis, transportes coletivos cobrarem a apresentação do comprovante de vacinação contra o COVID-19. Shoppings e hotéis também. Tem que fechar o cerco contra os negacionistas”, cobrou outra pessoa, no Twitter.
Para Patrícia, o comprovante deveria ser obrigatório e a postura antivacina não é generalizada. “Tem gente que é muito consciente. Está todo paramentado, tem álcool no carro, com aquela separação atrás”, diz.
A exigência de certificado de vacina é adotada em diversas empresas e também no setor público. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou proibir esse tipo de cobrança por parte das empresas por meio de portaria, mas o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), derrubou a tentativa.
Nesta terça (4/01), o governo João Doria (PSDB) anunciou que a apresentação do passaporte vacinal é obrigatória para cerca de 570 mil profissionais da ativa em órgãos de administração direta e indireta do estado de São Paulo e deve ser cumprida até o próximo domingo (9/01).
Os principais aplicativos de transporte atuantes no Brasil, porém, não adotam a prática de cobrar o certificado de vacinação.
A 99 afirmou que “segue atenta às medidas adotadas pelo governo federal sobre saúde e segurança relacionadas à Covid-19 que podem ser aplicadas no serviço de transporte por aplicativo”.
“Além disso, a companhia apoia e incentiva a imunização de toda população brasileira, reforçando constantemente suas mensagens para os motoristas parceiros, e segue as determinações das autoridades brasileiras”, diz a empresa.
A 99 ainda apresentou pesquisa que aponta que 80% dos motoristas já foram vacinados com ao menos uma dose. No entanto, o estudo ouviu apenas 629 pessoas, entre motoristas e passageiros, entre 26 de julho e 6 de agosto.
A Uber, por sua vez, afirmou que “vem adotando diversas medidas para ajudar a proteger usuários, motoristas e entregadores parceiros e segue orientando todos sobre as recomendações e determinações das autoridades de saúde – inclusive no que diz respeito à vacinação”.
Segundo a empresa, usuários e motoristas precisam passar por um checklist confirmando que estão tomando precauções devidas, “como o uso de máscara, utilização apenas do banco traseiro do carro, janelas abertas para ventilação, além da higienização”.
A Uber disse ainda que “foi a primeira empresa de aplicativos de mobilidade a verificar o uso das máscaras pelos parceiros e pelos usuários por meio de selfies – medida que segue em vigor”.
Para diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mônica Levi, deveria ser obrigatório a todos que trabalham no setor de transportes apresentar o certificado de vacinação.
Segundo ela, a questão vai além da mera liberdade individual e proteção do trabalhador.
“O transporte tem altas taxas de contaminação, são ambientes fechados. A gente sabe que essa variante omicron é altamente transmissível. A pessoa que está trabalhando e vai estar em ambiente com outras pessoas tem que estar vacinada para proteção delas”, diz.
“Em toda sociedade organizada nos dias de hoje, entende-se que não possa prevalecer liberdade individual sobre segurança coletiva”, complementa.
A falta de obrigatoriedade se repete no transporte público, onde boa parte dos passageiros estão a cargo de empresas privadas atuando como concessionárias. Embora funcionários da área tenham sido incluídos como prioridade, não há essa cobrança por parte do poder público.
No caso da gestão Doria, a assessoria da Secretaria dos Transportes Metropolitanos informou que haverá a partir de agora, com o decreto do governador sobre o assunto. Com isso, funcionário de empresas como metrô e CPTM, por exemplo, terão que apresentar o documento.
No entanto, a pasta não detalhou se ela vale também para linhas concedidas do metrô e concessionárias que trabalham em sistema de ônibus.
A gestão Ricardo Nunes (MDB) já havia feito cobrança dos servidores municipais, inclusive com demissões dos que se recusaram a se vacinar. A regra vale para servidores e empregados públicos municipais da administração direta, autarquias e fundações.
Os motoristas e cobradores, porém, trabalham para empresas privadas que prestam serviços à cidade. Questionada sobre o assunto, a Prefeitura de São Paulo afirmou apenas que eles foram colocados no grupo prioritário de vacinação.
De acordo com os números apresentados, porém, boa parte da categoria parece ter aderido.
“Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, até o dia 29 de dezembro, entre motoristas e cobradores, foram aplicadas um total de 125.339 doses, assim distribuídas: 56.940 (D1), 51.956 (D2), 16.280 doses adicionais e 163 doses únicas. O sistema reúne cerca de 50 mil funcionários entre motoristas, cobradores e fiscais”, diz, em nota.
Perguntada se há exigência de táxis e apps sobre a vacinação, a gestão afirmou que o uso de máscaras continua sendo obrigatório para motoristas e passageiros de táxis e aplicativos.
Por Artur Rodrigues