Anhangabaú reabre por 4 horas depois de dois anos em obras
A proposta inicial de revitalizar a região foi feita pelo então prefeito Fernando Haddad (PT)
Pouco mais de dois anos após a Prefeitura de São Paulo retomar o projeto de revitalização do Vale do Anhangabaú, na região central, o local foi liberado pela primeira vez à população neste domingo (25) com horário restrito entre as 8h e meio-dia, em caráter experimental.
A proposta inicial de revitalizar a região foi feita pelo então prefeito Fernando Haddad (PT), em um projeto que começou a ser desenhado em 2013, com a previsão de ser concluído três anos depois, o que não ocorreu. Ao todo, houve sete adiamentos para a inauguração do espaço.
Cercado por gradis, por volta das 7h50, havia no vale a presença de GCMs (guardas-civis metropolitanos), funcionários da prefeitura, de limpeza, controladores de acesso, além de alguns pedestres, que gostam de circular logo cedo pelo centro.
Guiados pela cadela Princesa, da raça de origem chinesa chow chow, os amigos Luciano Clemente Siboldi, 42, e Thiago Cavaletti, 37, gostaram da possibilidade de, em instantes, poder entrar no vale do Anhangabaú.
“Nós costumamos passear pelo centro que, apesar de estar em uma situação de deterioração, é lindo e conta com um potencial maravilhoso para ser frequentado e valorizado”, afirmou Sibolti.
O amigo dele acrescentou que, além do investimento visto em infraestrutura, deve-se investir também em assistência social. “No entorno do vale tem um monte de gente dormindo em barracas, ao relento. Elas precisam de ajuda e serem valorizadas também.”
O acesso ao vale foi liberado às 8h03, momento em que no local, além dos profissionais já mencionados, também havia atores e atrizes, alguns equilibrados em pernas de pau, batucando tambores.
A missão da trupe era distribuir máscaras de proteção, cerca de mil, além de, com bom humor, orientar pessoas a cumprirem os protocolos sanitários de proteção à Covid-19.
“A ideia é interagir com as pessoas, ao mesmo tempo em que são conscientizadas. É usar o humor para uma coisa séria”, resumiu Giba Freitas, produtor do projeto Sorriso na Máscara.
Posando para o celular, diante de uma instalação artística que homenageia profissionais da saúde, o vigia Carlos Mendes Fernandes, 62, fazia uma selfie, mostrando todos os dentes em um sorriso, desprotegido de máscara de proteção.
Ele comentou adorar passear pelo centro, região onde mora, estando feliz de poder circular pelo Anhangabaú, “onde sempre passou”, antes da pandemia do coronavírus.
Alertado sobre o fato de estar sem máscaras, ele se desculpou. “Me esqueci de colocar de volta, pois tirei a selfie em frente à exposição e tinha esquecido”, se justificou, colocando o item, dado instantes antes pelos artistas distribuidores de máscaras.
A reportagem também viu outras dez pessoas sem máscaras de proteção, ou mantendo-as no queixo, durante a abertura do espaço.
Este foi o caso de uma mulher, responsável por coordenar equipes de limpeza no local. O Agora testemunhou o momento em que ela dava orientações a dois funcionários, com o rosto perto delas e sem a máscara cobrindo boca ou nariz. Após isso, ela circulou pelo vale, com o item ainda pendurado no queixo.
No geral, porém, as pessoas respeitaram os protocolos sanitários, mantendo distanciamento e curtindo a área livre, ou ainda uma instalação de balanços, chamada de “Balançaremos”, na qual as pessoas podiam voltar à infância, pendurados em balanços amarrados ao Viaduto do Chá.
“Soubemos que o espaço ficaria aberto por quatro horas [neste domingo] e resolvemos passar para conferir, antes de irmos a uma sinfonia, no Teatro Municipal”, explicou a coordenadora de logística Cláudia Cunha, 42, logo após se balançar na instalação, junto com o amigo, o autônomo Túlio Paseli, 41, por volta das 10h20.
Aos poucos metros do casal de amigos, o empreiteiro Joel Vidica, 57, e sua mulher, a costureira Vera Lúcia Alves dos Santos, 53, também faziam uma selfie, sem usar máscaras. Mas após o registro, ambos taparam bocas e narizes com o item de segurança.
Eles souberam da reabertura do vale, por meio de reportagens, e saíram de Santo André (ABC), de manhã cedinho, exclusivamente para curtir o centrão paulistano.
“Moro no ABC há uns 26 anos, mas nunca tinha vindo conhecer o Vale do Anhangabaú, nem um monte de lugar do centro de São Paulo. Já que reformaram aqui, foi uma boa oportunidade para conhecer vários lugares”, afirmou a costureira, natural de Londrina (PR), acrescentando que o casal iria ainda no Mercadão Municipal, também no centro, “para comer um sanduíche de mortadela”, quitute também inédito para ela.
Prefeito
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e sua comitiva chegaram à região por volta da 11h, momento em que foram acionados os 850 jatos d’água, instalados no chão do vale. Alguns frequentadores aproveitaram a situação para aliviar o calor, passando de bicicleta ou patins em meio ao jorro.
Atores da Cia. Pia Fraus fizeram uma breve apresentação artística a Nunes, comentando sobre a arquitetura da região.
Apesar de os jatos d’água funcionarem, não foram encontrados bebedouros no vale, da mesma forma que banheiros ou pontos para o uso de álcool em gel.
O local, segundo a prefeitura, conta com 850 jatos d’água, 1.500 assentos, bebedouros, sanitários e 350 pontos de iluminação, além de 480 árvores que integram o paisagismo.
Sobre isso, o prefeito afirmou, após ser questionado pelo Agora, “que irá corrigir essas questões”. “Hoje [domingo] é o primeiro dia [de reabertura do Anhangabaú], é experimental, só das 8h às 12h, justamente para a gente poder calibrar, verificar aquilo que é necessário melhorar e poder fazer. Vamos corrigir essas questões, colocar dispositivos de álcool em gel e banheiros. Mas pedimos compreensão, hoje é o primeiro dia”, explicou.
Ele também afirmou que a prefeitura irá responsabilizar a empresa da funcionária que foi flagrada sem máscara, quando orientava profissionais da limpeza.
“Amanhã [segunda-feira, 26] enviaremos à vocês [jornal Agora] uma cópia da autuação da empresa, porque a gente não admite, principalmente uma empresa terceirizada, que tenha funcionários sem o uso da máscara ou álcool em gel.”
Pedindo para sair Quando o prefeito realizou uma coletiva de imprensa, por volta das 11h20, o vale estava ocupado por cerca de 200 pessoas, segundo apurado pela reportagem.
Este número foi paulatinamente diminuindo até que, ao meio-dia em ponto, um GCM se aproximou das pessoas, que estavam ao lado de um dos acessos ao vale, por meio de um gradil, e pediu para elas irem embora.
Uma das trupes de atores engrossaram o coro, cantando e tocando instrumentos e convidando, de forma gentil, para que todos saíssem. “Está chegando a hora, a hora de partir, me dá uma dor no peito, ter que ir embora, ter que deixar aqui”, cantaram.
Os atores, em seguida, se juntaram a um grupo de profissionais da limpeza e guardas que, em um cordão, caminharão, com garis a frente, empunhando vassouras, varrendo simbolicamente todo mundo do vale, com bom humor e respeito.