Amigos querem dar nome de jornalista a ciclovia do rio Pinheiros

A jornalista escrevia o blog Ciclocosmo, no jornal Folha de S.Paulo, e era editora da revista "Go Outside"

Um grupo de amigos e cicloativistas lançou uma campanha para que a ciclovia do Rio Pinheiros, na capital paulista, receba o nome de Erika Sallum, 45, que morreu neste fim de semana após enfrentar um câncer desde 2016. A jornalista escrevia o blog Ciclocosmo, no jornal Folha de S.Paulo, e era editora da revista “Go Outside”.

Companheiro da jornalista, o fotógrafo Caio Guatelli, 43, afirma que Erika teve um conhecimento profundo do papel da bicicleta na sociedade e que, em relação à ciclovia do Rio Pinheiros, foi uma incentivadora do uso dela desde sempre. “Tem a função de unir, de transportar as pessoas com respeito ao meio ambiente, às diferenças sociais. Ela sempre se preocupou que a ciclovia não fosse só para atletas de ponta mas também um meio de deslocamento na cidade”, afirma.

Para o fotógrafo, a homenagem é uma maneira de deixar vivo o legado da jornalista. “Se um dia tiver o nome dela, essa mensagem vai continuar. As pessoas vão pesquisar e descobrir o quão importante ela foi”, conta.

Consultado sobre a ideia, o governador João Doria (PSDB) respondeu por meio de nota. “A Erika Sallum sempre foi uma cicloativista de muito respeito e muito querida também. Ela, o seu marido e sua família”, disse. “Na dificuldade de nominar a nova ciclovia do rio Pinheiros, eu pedi ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes [MDB], que avaliasse a possibilidade de nominar a ciclovia Faria Lima -que é uma das mais nobres e mais importantes da cidade–com o nome da Erika Sallum”, completou.

“Ele gostou da ideia, vai levar adiante. Vai pedir a Renata Falzoni -uma cicloativista muito importante que está neste momento vinculada à Câmara Municipal de São Paulo- para que faça contato com o prefeito Ricardo Nunes para que pudesse avançar nessa nominação da ciclovia de Erika Sallum. E muito provavelmente é o que vai acontecer”, disse Doria.

Durante o período em que concluiu o mestrado em Direitos Humanos pela NYU (Universidade de Nova York), de 2007 a 2008, Erika colaborou com a ONU no escritório para administração de crises humanitárias do continente africano, e também no escritório da Human Rights Watch.

Editora do canal Bike Legal, no Youtube, a cicloativista Renata Falzoni, 67, diz que a iniciativa de dar o nome de Erika à ciclovia é ideal por ser um espaço de inclusão na sociedade, algo que tem toda relação com a vida da jornalista. “Ela trouxe o debate da inclusão para a turma do [ciclismo de] alto rendimento”, diz.

Para Renata, que foi também vereadora suplente pelo PV na Câmara da capital paulista, a perda é gigantesca. “Sinto como se estivesse numa trincheira e a pessoa a meu lado tivesse sumido. Era uma colega de trincheira”, diz.

Integrante do coletivo Bike Zona Sul, o relações públicas Thomas Wang, 26, afirma que Erika era conciliadora em suas demandas no ciclismo. “Ela não julgava as pessoas, queria conhecer e pedalar com todos. Dessa forma, ela poderia entender a visão de cada um e encontrar um meio de unir todos os tipos de ciclistas por uma única causa”, conta.

Segundo Wang, a iniciativa de batizar a ciclovia com o nome de Erika é muito simbólica, porque ela que sempre esteve lá e batalhou por aquele espaço. “Se pudermos continuar os projetos que ela queria, com certeza ela ficará feliz”, diz.

Entre os projetos que contavam com o apoio de Erika está um eixo cicloviário de quase 146 km que ligaria a Baixada Santista a Guarulhos (Grande SP), passando pelas duas marginais da capital paulista. Foi sua última publicação no blog Ciclocosmo.

O geólogo Sasha Tom Hart, 44, é integrante do coletivo Bike Zona Oeste e afirma que a iniciativa de dar à ciclovia o nome de Erika é apoiada por todo o grupo. “A Erika defendia muito o diálogo com a sociedade. Não é só dar o nome da pessoa, mas mostrar a luta dela”, diz.

Para Hart, as discussões propostas pela jornalista atingiam um espectro muito maior do que aquele diretamente relacionado a bicicletas e ciclovias. “Mostrava como tem a ver com saúde, mobilidade, segurança, convivência e direitos humanos”, diz.

Segundo o integrante do coletivo de ciclistas da zona oeste, também por isso a ciclovia do rio Pinheiros merece o nome de Erika. “A ciclovia tem um potencial para ser dos lugares mais democráticos da cidade. Onde mais pessoas ricas e pobres, negras e brancas, homens e mulheres, podem conviver sem uma relação de poder entre as partes?”, questiona. “A Erika me ensinou muito, sou muito grato”, completa.

Por William Cardoso

 

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