Alunos da USP trocam placas de ruas que homenageiam pessoas com histórico racista
Ação simbólica tem como objetivo de promover a discussão sobre a construção da memória da cidade
A avenida Dr. Arnaldo, na zona oeste da capital paulista, acordou nesta quarta (11/8) rebatizada. A via, uma das principais da cidade, teve suas placas trocadas para o nome da biomédica brasileira Jaqueline Góes de Jesus.
A ação simbólica foi feita por alunos da Faculdade de Direito da USP com o objetivo de promover a discussão sobre a construção da memória da cidade. No lugar de placas de rua em homenagem a acadêmicos que tiveram a atuação marcada por ações racistas e eugenistas, eles botaram outras com nomes de personalidades negras.
“O incêndio foi muito importante por dar início a um debate muito importante no Brasil, que é a necessidade de questionar como é construída a nossa memória histórica. Nós não queremos apagar a história, mas contá-la por outra perspectiva”, diz a estudante Letícia Chagas, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, formado por alunos da Faculdade de Direito da USP.
A avenida Dr. Arnaldo foi batizada em homenagem a Arnaldo Vieira de Carvalho, fundador da Faculdade de Medicina da USP. O médico foi também um dos membros da Sociedade Eugênica de São Paulo, movimento racista e pretensamente científico que defendia o branqueamento da sociedade.
Os estudantes trocaram as placas da avenida para homenagear a biomédica, que fez parte da equipe responsável pelo sequenciamento genético do coronavírus dos primeiros casos de Covid-19 na América Latina.
O fundador do Instituto Butantan, Vital Brazil Mineiro da Campanha, que também foi membro da Sociedade Eugênica de São Paulo, teve seu nome retirado da avenida que o homenageia na zona oeste da capital. No lugar, foi colocada placa com o nome da escritora negra Maria Carolina de Jesus.
O professor Amâncio de Carvalho também teve seu nome retirado de uma rua da Vila Mariana, na zona sul da capital. As placas foram substituídas para homenagear Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado por Carvalho para ser usado em experimentos e trotes estudantis da Faculdade de Direito.
Em abril, os alunos já haviam questionado a direção da faculdade sobre as homenagens ao docente. Catedrático de medicina legal no Largo São Francisco, ele dá nome também a uma sala dentro da instituição.
A congregação da faculdade formou uma comissão para estudar a atuação de Carvalho e avaliar a retirada da homenagem.
“As ruas da cidade, assim como a universidade, nos mostram o tempo todo que esses espaços não são nossos ao homenagear pessoas que promoveram ações racistas. Já passou da hora de questionarmos que memória, que história é essa que queremos contar”, diz Chagas.
Os alunos escolheram fazer a intervenção nesta quarta (11/8), Dia do Estudante, comemorado no dia em que em 1827 foram criados os dois primeiros cursos de ensino superior do país em ciências jurídicas, na Faculdade de Direito de Olinda e na Faculdade de Direito do Largo São Francisco da USP.
Por Isabela Palhares