PF desmente boatos e nega que corpos foram encontrados no Amazonas
A dupla desapareceu no Vale do Javari (AM) na manhã do último dia 5, e desde então buscas estão sendo realizadas na região
A Polícia Federal negou na tarde deste sábado (11) que tenha encontrado corpos durante as buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista britânico Dom Phillips. A dupla desapareceu no Vale do Javari (AM) na manhã do último dia 5, e desde então buscas estão sendo realizadas na região.
“Não procedem as notícias que estão circulando nas redes sociais no sentido de que os corpos dos desaparecidos foram encontrados”, diz a nota. A PF ressalta que foi encontrado material orgânico, aparentemente humano, que já se está no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal para análise – não há detalhes sobre o tipo de material.
Ontem, materiais genéticos de referência da dupla foram coletados. Além do material orgânico, a PF também pretende comparar com o sangue encontrado na lancha de Amarildo da Costa de Oliveira, 41 anos, o Pelado, detido na terça-feira (7).
De acordo com a PF, a operação de busca por Bruno e Dom segue no Rio Itaquaí e também com reconhecimento aéreo na região, último local em que eles foram vistos.
DENÚNCIA
Exonerado do cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai em outubro de 2019, Bruno relacionou a sua saída ao combate contra o garimpo.
“Fizemos [em setembro de 2019] a maior destruição de garimpo do ano em região de índios isolados. A última operação de combate à mineração foi na reserva Yanomami. Cheguei à tarde e recebi minha exoneração”, disse à época ao site Brasil de Fato.
Mesmo após ser exonerado pela Funai (Fundação Nacional do Índio), Bruno assinou ofício com outros dez servidores encaminhado à DPU (Defensoria Pública da União) para denunciar oito ataques a tiros no Vale do Javari.
Documento obtido pela reportagem apontou “sucessivos ataques com armas de fogo” concentrados em 2019, criticou cortes orçamentários no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro e ameaçou fazer a “paralisação das atividades” devido a risco de morte na região amazônica.
Cinco desses ataques foram contra servidores na base de proteção etnoambiental Ituí-Itaquaí.
“Apesar dos registros em relatórios, boletins de ocorrência e evidências coletadas, nenhuma atitude eficaz foi tomada pela administração”, denunciou o documento, enviado à DPU em 4 de novembro de 2019, um dia após o 8º ataque em pouco mais de um ano.
Os últimos dois atentados relatados ocorreram em um intervalo de apenas três dias em uma escalada de violência, de acordo com o registro assinado pelos servidores da Funai em áreas de índios isolados e de recente contato.
“Antes, os invasores se evadiam ao avistar as equipes [de vigilância]. Nos últimos anos, porém, a realidade passou a mudar de forma gradativa, caracterizada pela presença cada vez maior de audácia e violência”, citou o documento.
Após serem avistados na noite de 31 de outubro de 2019 por um colaborador da Funai de plantão, que usa lanterna para inibir invasores de uma área indígena, um grupo composto por seis a oito homens em uma canoa efetuaram ao menos oito disparos na direção da guarita onde estava o plantonista, conforme constatado em áudio anexado à denúncia encaminhada à DPU.
Ainda de acordo com o relato, o grupo de invasores carregava “recursos ambientais de procedência ilegal” em uma embarcação com cerca de 12 m.
Na madrugada de 3 de novembro de 2019, três homens em uma canoa com 8 m no rio Ituí atiraram três vezes contra um servidor em uma guarita após o acionamento de alarme sonoro para invasores. Ninguém se feriu nos ataques.