Chuva em Petrópolis foi a maior em 90 anos, diz Defesa Civil
Recorde anterior era o de agosto de 1952, ocasião em que choveram 168,2 mm em 24h
Caíram sobre Petrópolis na terça-feira (15/2) 259,8 mm de chuva, o equivalente a 259,8 litros por metro quadrado, o maior volume já registrado na cidade desde 1932, quando a medição começou a ser feita pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Mais de cem pessoas morreram por causa dos deslizamentos.
O recorde anterior era o de agosto de 1952, ocasião em que choveram 168,2 mm em 24h. O volume de chuva é medido em milímetros, porém, é possível dizer que 1 mm de chuva equivale a 1 litro de água acumulada em 1 metro quadrado.
Muitos fatores podem ter contribuído para que a chuva ultrapassasse as previsões. O cenário climático na região na terça (15/2) era muito similar ao de janeiro de 2011, quando mais de 900 pessoas morreram no desastre da região serrana do Rio. A diferença, segundo os meteorologistas do Inmet, foi a concentração da chuva da última terça sobre a cidade de Petrópolis.
Essa concentração pode ter acontecido por causa de uma frente fria que passava pelo litoral fluminense e avançou sobre a terra como massa de ar frio.
A massa de ar frio encontrou na serra uma barreira, algo como um muro, subiu e condensou, ou seja, passou do estado gasoso para o líquido. Isso aconteceu porque a massa de ar frio encontrou clima fértil para formação de chuva forte: a temperatura e a umidade do ar estavam altas em Petrópolis.
A soma de temperatura e umidade altas com ar frio tem como resultado a formação de nuvens de temporal, segundo Almerino Marinho, meteorologista do Inmet do Rio de Janeiro.
Outro fator que deve ser levado em conta é o fenômeno La Niña, que causa o esfriamento em excesso das águas do Oceano Pacífico. Uma das principais características do La Niña é deixar instável a região Sudeste, de maneira que não é possível dizer se haverá muita chuva ou pouca chuva.
A associação entre esse fenômeno e outro chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (Zcas) teria criado um cenário favorável para a chuva de Petrópolis na última terça.
Essa zona de convergência é uma faixa que vai do noroeste do país até o sul do Oceano Atlântico, passando pelo Sudeste. Esse é o principal sistema causador das chuvas no Centro-Oeste e no Sudeste.
Chovia na região havia algumas semanas e especialistas do Inmet e do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) já observavam risco moderado de temporal e de deslizamento em Petrópolis.
De acordo com Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador-geral de operações e modelagem do Cemaden, risco moderado quer dizer que há chances de algo acontecer, porém é pouco provável que a situação ocorra. “Tivemos alteração de status nos alertas em pouquíssimo tempo, de moderado para alto, de alto para muito alto, tudo aconteceu praticamente ao mesmo tempo”, disse à reportagem.
Para Seluchi todos esses fatores causaram juntos uma situação em que, mesmo havendo preparo das autoridades para contenção e resposta a desastres, teria sido muito difícil reagir a tempo. “Entrou na esfera do imponderável”, classificou.
Por Matheus Moreira